Período pré-clássico
Quando pensamos na história do México, imediatamente nos vem à cabeça os astecas e os maias, as civilizações pré-colombianas mais famosas da região, mas o império asteca só ascendeu por lá no reinado de Izcoatl, de 1428 a 1440. No entanto, aparentemente já havia vestígios de presença humana na região desde 15.000 a 20.000 anos aC, de caçadores-coletores que usavam pedra lascada. A partir do IV milênio a.C. começou o cultivo de milho na região de Tehuacan, que foi tomando importância junto com outros produtos (vagens, abóbora, grãos oleaginosos como o huauhtli (amarante), tomate e pimenta, progredindo territorialmente dos planaltos até o litoral do golfo. Com o tempo as populações se tornaram sedentárias.
Populações se formaram em torno dos lagos (Zacatenco, Ticomán, El Arbolillo, Copilco, Tlatilco, Cuicuilco), muito semelhante às populações na Europa. Seus vestígios mostram abundantes obras em cerâmica, como estatuetas de divindades, enquanto outras, com seus ornamentos e turbantes, atestam a existência de estruturas sociais bastante diferenciadas.
Pouco antes da era cristã, os índios de Cuicuilco eram suficientemente organizados para construírem a primeira pirâmide do planalto Central, túmulo de tijolos e pedras, por sinal de configuração mais próxima do tronco cônico do que da forma piramidal.
Olmecas – primeira grande civilização
Desde a segunda metade do II milênio a.C, eles construíram centros cerimoniais em La Venta e San Lorenzo (atuais estados de Tabasco e Veracruz).
Difundiram sua civilização desde o vale do Balsas até El Salvador e a Costa Rica, do litoral do golfo às montanhas de Oaxaca e ao litoral do Pacífico.
Eles são considerados o elo de transição entre o período pré-clássico, da aldeia, e o período clássico, o da civilização urbana. Deixando de legado pirâmides e altares, esteias esculpidas, baixos-relevos, jades e jadeístas cinzelados, a escrita hieroglífica e a contagem do tempo.
Sua decadência aconteceu em 400 a.C.
Período Clássico – I milênio d.C.
Quatro núcleos culturais compunham o território: os maias ao sul, com grandes cidades como Palenque, Yaxchilán, Copán, Piedras Negras, Uxmal, Labná; Monte Albán e Mitla, no território dos zapotecas de Oaxaca; El Tajín no atual estado de Veracruz; e Teotihuacán no planalto Central.
Teotihuacán teve seu apogeu de 400-700 d.C, com suas enormes pirâmides do Sol e da Lua (63 e 43m de altura, respectivamente), sua avenida dos Mortos (1.700m de comprimento), seus templos dos deuses agrários e da Serpente de Plumas, suas esculturas e afrescos, suas máscaras em pedra dura e sua magnífica cerâmica pintada, parece ter sido uma metrópole teocrática e pacífica, cuja influência se irradiou até a Guatemala. Sua aristocracia sacerdotal, cuja língua ignoramos, era sem dúvida originária da costa oriental, da zona dos olmecas e de El Tajín e a massa da população camponesa devia ser composta de otomis e outras tribos rústicas.
E onde estavam os astecas?
Em um país chamado Aztlan, ao sul dos Estados Unidos e noroeste do México. Eles falavam a língua nahuatl, que provém de uma família linguística que ia de Utah até a Nicarágua. Seu modo de vida tinha características nômades, caçadoras e guerreiras das tribos chichimecas
Os Toltecas
Por motivos sociais e econômicos desconhecidos, as cidades clássicas declinaram entre o IX e XI séculos.Nesse período, os povos falantes de nahuatl prosperaram. Oriundos do norte, os toltecas fundaram sua cidade, Tula, sobre o local da aldeia otomi chamada Mamêhni, em 856 d.C. Por um curto períodos eles ainda se submeteram aos costumes dos sacerdotes locais mas com a chegada de mais e mais imigrantes, eles acabaram por sobrepor-se.
Eles traziam uma nova religião, que tinha como rito o culto da Estrela da Manhã, a noção de guerra cósmica, os sacrifícios humanos e uma organização social militarista simbolizada no deus-feiticeiro Tezcatlipoca, deus da Grande Ursa, do céu estrelado, do vento noturno e protetor dos guerreiros.
Seu estabelecimento definitivo se deu a partir do século XI, os deuses celestes superam as velhas divindades da terra e da água. A Serpente de Plumas transforma-se, em um deus astral, o planeta Vênus. Os sacrifícios humanos generalizam-se. Os santuários eram vastas salas onde se podem reunir os guerreiros. O “rei”, emanação da aristocracia militar, detinha os poderes sacerdotais.
O crescimento se deu para o oeste, até Michoacán, para leste até a costa do golfo e para o sudeste, até às montanhas de Oaxaca e Yucatán. Eles deixaram marcas na arte, religião e organização dinastia até a conquista espanhola.
Seu fim ocorreu em 1168, com a invasão da cidade de Tula, mas sua língua e seus costumes se conservaram pela presença de Toltecas em cidades como Colhuacán e em Cholula. Com a derrocada Tolteca, tribos bárbaras do norte marcharam em direção ao sul, inclusive os astecas.
Os estados pós-toltecas
Os povos bárbaros que migraram, absorveram a vida sedentária, a agricultura, a língua e os ritos Toltecas. Os Chichimecas, por exemplo, deixaram as cavernas e fundavam vilas como Texcoco.
No século XIV, 28 Estados compartilhavam o planalto Central, como Colhuacán (tolteca), Texcoco (chichimeca)Azcapotzalco (dinastia de origem possivelmente otomi ou mazahua, porém “nahuatlizada”), Xaltocán (otomis) etc. Esses povos viviam em constante tensão e paralelamente se desenvolviam culturalmente.
Os astecas foram os últimos a chegar. Em um conflito com Colhuacán, seu soberano foi vencido e morto, e eles foram exilados em Tizapán e depois em ilhas da zona pantanosa a oeste do grande lago. Foi lá que, em 1325, segundo a tradição, Uitzilopochtli falou ao grande sacerdote Quauhcoatl (“Serpente-Águia”), que seu templo e sua cidade deveriam ser construídos “em meio ao bambuzal”, sobre uma ilha rochosa na qual se veria “uma águia devorando alegremente uma serpente”. Quauhcoatl e os demais sacerdotes puseram-se à procura do sinal prometido pelo oráculo; e viram uma águia pousada sobre uma figueira-do-inferno (tenochtli) tendo no bico uma serpente. Lá foi erigida uma simples cabana de bambus, primeiro santuário de Uitzilopochtli e núcleo da futura cidade de Tenochtitlán.
Início da dinastia
Os astecas não desistiram do sonho dinastico e para tal finalidade, procuraram um soberano da Unha tolteca de Colhuacán: assim, sua dinastia se religaria ao da prestigiosa idade do ouro de Tula. Esse soberano, Acamapichtli (“Punho de Bambu”), foi entronizado em 1375.
O segundo rei foi Uitziliuitl (“Pluma de Colibri”), que desenvolveu uma política de alianças matrimoniais. Obteve a mão da princesa Miahuaxihuitl, filha de um chefe de Quauhnahuac (Cuernavaca), tendo assim, acesso a importação do algodão.
O terceiro rei asteca, Chimalpopoca, foi pouco mais que um vassalo de Azcapotzalco (dinastia guerreira que dominava o vale central) e morreu assassinado em 1428.
O quarto soberano asteca, junto com Nezaualcoyotl, herdeiro do trono de Texcoco, conseguiram vencer Azcapotzalco.Os dois soberanos vencedores se aliaram a uma cidade pertencente à tribo de Azcapotzalco; Tlacopan. Assim, foi fundada a Tríplice Aliança de Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopan. O papel militar concentrou-se nos astecas, enquanto Texcoco, sob o sábio governo do rei-poeta Nezaualcoyotl, se transformava em metrópole das artes, da literatura e do direito. A Tríplice Aliança tornou-se, com efeito, o Império Asteca.
O império Asteca – 1519
Cinco soberanos sucederam-se no México entre o fim do reinado de Itzcoatl e a invasão espanhola:1440-1469: Motecuhzoma denominado Ilhuicamina ou Ueue.1469-1481; Axayacatl.1481-1486: Tizoc.1486-1503: Auitzotl. 1503-1520: Motecuhzoma II, chamado Xocoyotzin.
Esses soberanos permaneceram longo tempo no poder e sem cessar governaram com uma dupla preocupação: estender a hegemonia da Tríplice Aliança a novos territórios e reforçar o poder de Tenochtitlán em detrimento das duas outras cidades dentro da Aliança.
Quando os espanhóis chegaram em 1519, o Império compunha-se, segundo documentos indígenas, de 38 “províncias”.
Essas províncias pagavam tributos variáveis conforme seus produtos. Os calpixque, assistidos por escribas, mantinham em dia os registros de tributos, promovendo a arrecadação e o transporte, e assegurando que, em caso de não haver pagamento, fossem cultivadas terras cujos produtos seriam encaminhados ao México.Tenochtitlán, Texcoco receberiam cada qual 2/5 dos tributos, ficando o último quinto reservado a Tlacopan.Os funcionários que desviasse os tributos eram condenados a pena de morte.O “tesouro público” não se distinguia do tesouro privado do soberano. Este se utilizava do petlacalco, tanto para custear as imensas despesas palacianas como para distribuir ao povo víveres e vestimentas, pagar os funcionários, artesãos e escultores, prover os santuários e abastecer os exércitos. Em tempos de escassez, abriam-se os celeiros imperiais.
Sociedade Asteca
Inicialmente os astecas eram uma sociedade homogênea, a única autoridade reconhecida era dos sacerdotes. Entre o fim do século XIII e o início do século XIV a aldeia se transformou em uma capital imperial, regida por uma estrutura social mais complexa.
O povo
Os membros da tribo, cidadãos comuns, eram chamados maceuatin. Sua função era o serviço militar, o pagamento de impostos e a realização de serviços coletivos, como conservação de caminhos e canais, a construção de monumentos, diquesApós a maioridade, representada pelo casamento entre 20-25 anos, eles ganhavam um lote de terra para construir uma casa e cultivar.Os filhos tinham direito à educação gratuita. Recebiam comida, roupas e tecidos em distribuições regulares e em momentos de escassez.
Os escravos
Os tlatlacotin compunham a classe mais baixa da sociedade. Eram de diversas origens, prisioneiros de guerra destinados ao sacrifício das cerimônias; condenados pela justiça civil, que eram obrigados a trabalhar; os homens e mulheres que se vendiam voluntariamente por não terem condições de se sustentar e servidores que uma família colocava à disposição de um senhor para saldar uma dívida.
O tlacotli era alojado, alimentado e vestido como qualquer outro indígena e tratado com gentileza. Eles podiam possuir bens, terras, casas e até mesmo outros escravos. Era-lhes permitido casar com uma mulher livre e seus filhos eram livres. A liberdade poderia vir de recompra, alforria por testamento do senhor, apelo à proteção do imperador; e de tempos em tempos os soberanos decretavam libertações em massa.
Os artesãos
A ourivesaria, a joalheria, a cinzelagem de pedras semipreciosas e o mosaico de plumas constituíam, entre os astecas, atividades importantes e respeitadas.
Os artesãos que trabalhavam em metais preciosos, jades, turquesas e plumas tinham o título de “toltecas”, visto a invenção dessas técnicas ser atribuída à antiga civilização Tula e seu herói simbólico, o rei-deus Quetzalcoatl.
Os negociantes
As poderosas corporações de comerciantes, os pochteca, tinham o monopólio do comércio exterior de luxo. Formavam uma classe poderosa, em ascensão em uma sociedade onde representavam a fortuna privada, o luxo e a opulência.
Os dignatários
No ápice da sociedade, uma dupla hierarquia dominava, a dos dignitários e a dos sacerdotes.O tecuhtli, senhor ou dignatário, imperador ou membro do grande conselho, governador ou juiz, não pagava impostos e não se ocupava de agricultura. Suas terras eram cultivadas pelos maceualtin. Se beneficiavam dos tributos, vestimentas, jóias, pedras preciosas e plumas. Seu palácio era construído e mantido com dinheiro público. Dispunha de servidores, escravos, escribas.
As terras, domínios e palácios dos senhores não lhes pertenciam como propriedade absoluta, apenas como usufruto. Contudo, as grandes famílias tendiam a se perpetuar, a não ser que os filhos não fossem dignos dos pais, daí a família perdia seu status.
Os sacerdotes
O Estado asteca era religioso mas não era uma teocracia.A hierarquia religiosa compreendia servidores dos templos de bairro; sacerdotes superiores que controlavam a prática do culto nas províncias; servidores dos grandes templos do México; o Mexicatl Teohuatzin, espécie de vigário-geral; os dois grandes-sacerdotes, iguais em título e poder, ambos denominados “Serpentes de Plumas”, um dos quais se consagrava ao deus solar asteca Uitzilopochtli, e o outro, à antiga divindade da água e da chuva, Tlaloc, adorada há milênios pelos camponeses indígenas.
Em Tenochtitlán, cada divindade tinha seu santuário e seus próprios servidores em funções determinadas. Os dois “Serpentes de Plumas” eram nomeados pelo grande conselho e escolhiam de comum acordo o Mexicatl Teohuatzin. Nessa escolha eram levados em conta apenas os méritos e conhecimentos.
O governo
Os mexicanos esforçaram-se para se conformar ao modelo de governo que encontraram ao chegar ao planalto central, de cidades-estado Toltecas, com um chefe aristocrata militar, eleito da mesma família. Durante os primeiros reinados, uma assembléia geral de guerreiros elegia o soberano, mas progressivamente o colégio se restringiu. A partir de Auitzotl, esse colégio não abrangia mais que uma centena de membros: os 13 dignitários supremos, membros do grande conselho; os representantes dos guerreiros e dos sacerdotes; e outros membros designados para representar os diversos bairros.
A vida cotidianaOs astecas eram caçadores-coletores antes de migrar para a planície central. Após as conquistas e com amplas regiões no vale e nas províncias, a plantação de milho se tornou importante. A caça e pesca, contudo, ainda eram importante. Além disso, considerável proporção da população se dedicava a atividades não-agrícolas: serviço militar, sacerdócio, administração e artesanato. Os alimentos vinham tanto de trocas, como dos impostos em espécie arrecadados nas províncias.A cerâmica era produzida em grande quantidade para uso diário e a cerâmica de luxo, decorada com motivos policromados, era importada de Cholulá e do território mixteca.
A capital Tenochtitlán, ampliada em 1476 pela anexação de Tlatelolco, estendia-se então por mil hectares de ilhas e terras pantanosas, transformada em uma rede geométrica de canais, ruas e praças. A cidade abrigava de 80 mil a 100 mil domicílios, ou seja, um total de mais de 500 mil habitantes.
O centro da cidade ficava sobre a ilha rochosa, onde Quauhcoatl erigira o primeiro santuário Uitzilopochtli. O Tcocalli, pirâmide com 120 degraus até o topo, encimada pelos santuários gêmeos de Uitzilopochtli e de Tlalo, ficava lá. Esse tempo fora inaugurado no ano “Oito-Cana” (1487) pelo imperador Auitzotl. Ao seu redor elevava-se o templo arredondado de Quetzalcoatl, o templo de Tezcatlipoca, o da deusa terrestre Ciuacoatl, o de Coacalco, panteão consagrado ao culto de deuses estrangeiros, o do Sol e inúmeros outros santuários, casas de oração, campos de jogo ritual de bola, os calmecac (monastérios-colégios), o Mecatlan (escola de música), e também os arsenais (tlacochcalli) confiados a uma guarnição de elite.
Essa cidade santa era onde hoje está o atual bairro de Zocalo, onde se eleva a catedral de México e o palácio do presidente da República, a praça central, ao lado dos palácios imperiais edificados por Axayacatl, Auitzotl e Motecuhzoma II.
A cidade era dividida em quatro partes, a leste, Teopan (“o bairro do templo”); a oeste, Aztacalco (“casa das garças reais”); ao norte, Cuepopan (“lá onde desabrocham as flores”); ao sul, Moyotlan (“lugar dos mosquitos”).
O centro comercial ficava em Tlatelolco, com um mercado frequentado por 20 mil a 25 mil por dia, com todo tipo de produtos e serviços.
A água era um problema, visto as lagunas serem salobras, sob o reinado de Motecuhzoma o Antigo, foi construído o primeiro aqueduto, com 5km de extensão, para transportar até o centro da cidade a água das fontes de Chapultepec. No tempo de Auitzotl foi construído um segundo aqueduto entre Coyoacán e o centro.
A cidade também sofria com inundações. Motecuhzoma I construiu em 1449, um dique de 16 quilômetros de comprimento, destinado a proteger a cidade contra as inundações do grande lago. Auitzotl precisou fazer mergulhadores obstruírem a fonte da Acuecuexatl, cujas águas, jorrando com violência, haviam elevado o nível das lagoas, destruindo inúmeras casas.
Comida
Os astecas se tornaram sedentários e sua principal alimentação era o milho (em cozidos, bolos, ou pequenos pãezinhos cozidos no vapor, os tamalli), feijão, abóbora, pimenta e tomate. Os grãos de huauhtli (amaranto) e de chian (sálvia) eram usados em mingaus. Em torno do lago, consumiam-se peixes, crustáceos, batráquios e até insetos aquáticos.Tambem se consumia carne de perus, patos, coelhos, uma espécie de cão sem pêlo, aves, porcos selvagens, lebres selvagens e cabrito.
Os dignitários e comerciantes bebiam o cacau, produto exótico originário das terras tropicais; geralmente ao final das refeições. O octli, bebida fermentada à base de suco de agave (atualmente pulque), erq consumido em certas rituais, e pelos homens e mulheres de idade avançada: a embriaguez era severamente reprimida.
Roupa
Os homens usavam uma tanga (maxtlatl), de extremidades bordadas, até a altura dos joelhos, e se envolviam em um manto (tilmatli). A mulher se cobria com um corpete (huipilli) e uma saia (cueitl). O guerreiro recobria a testa com um capacete de madeira, plumas e papel, representando a cabeça de uma águia ou jaguar, mandíbulas de serpente etc.
Usava-se a fibra de agave ou ixtle na confecção de tecidos para os cidadãos comuns. Mas o algodão, importado das Terras Quentes, era a matéria-prima mais difundida. A pele de coelho era muito utilizada para cobertores ou mantas de inverno.
O “manto de turquesa” verde e azul era exclusivo do imperador; o manto branco e negro, do Ciuacoatl. Os sacerdotes vestiam-se de preto ou verde-escuro. Os dignitários usavam sandálias (cactli) de fibra ou de couro, com ornamentos de ouro, pedrarias e peles de jaguar.
As mulheres utilizavam espelhos de pirita ou obsidiana, untavam o rosto com um ungüento amarelo-claro denominado axin, ou com uma terra da mesma cor (tecozautli), perfumavam-se com incensos aromatizados e penteavam os cabelos levantando dois bandós de cada lado e um na frente.
Jovens cortesãs oficialmente relacionadas aos guerreiros celibatários, se pintavam intensamente e até tingiam os dentes de vermelho com cochonilha, adotando uma moda originária das províncias tropicais.
Jogos
Os astecas gostavam de jogar um jogo de bola chamado tlachtli, onde duas equipes competiam no campo, que linha a forma de um duplo “T” maiúsculo, lançando uma pesada bola de borracha maciça. A bola só poderia ser tocada com os joelhos ou os quadris. O objetivo era fazê-la passar entre dois anéis de pedras fixa nas paredes laterais.
Eles usavam joelheiras, luvas e máscaras de couro, mas freqüentemente se contundiam e podiam até morrer por conta do peso da bola. Dizia-se que o tlachtli representava o universo e a bola, o sol. O jogo tinha, portanto, uma significação esotérica. Era o esporte da elite e também pretexto para elevadas apostas.
O patolli era um jogo de azar amplamente jogado por todos, sendo motivo de vícios e dívidas.
Técnicas e conhecimento
A metalurgia do cobre, do bronze, do ouro e da prata penetrou no México no início do II milênio a.C., provavelmente importadas do Peru.
Sua ourivesaria foi admirada por Albrecht Dürer, que pôde ver, em Anvers no ano de 1520, alguns presentes remetidos por Motecuhzoma a Cortez e enviados por este último a Carlos V.
Os sacerdotes astecas, astrônomos e astrólogos tinham conhecimentos precisos quanto à duração do ano, a determinação dos solstícios, as fases e eclipses da lua, a revolução do planeta Vênus e diversas constelações, como as Plêiades e a Grande Ursa.
A medida do tempo tinha por base o número 20. O ano dividia-se em 18 meses de 20 dias, mais cinco dias “ocos”. Paralelamente a esse calendário solar, havia um calendário divinatório, o tonalpoualli, de 260 dias, baseado na combinação de uma série de 13 números (de 1 a 13) e de 20 nomes (cipactli/crocodilo, eecatl/vento, calli/casa, cuetzpalin/lagarto, coatl/serpente, miquiztli/morte, mazatl/cabrito, tochtli/coelho, atl/água, itzcuintli/gato, ozomatli/macaco, malinalli/erva, acatl/cana, ocelotl/jaguar, quauhtli/águia, cozcaquauhtli/abutre, ollin/movimento ou tremor de terra, tecpatl/faca de sílex, quiauitl/chuva, xochitl/flor)
A série de 260 dias começava por 1 cipactli e terminava por 13 xochitl. O primeiro dia de cada ano emprestava seu nome ao ano inteiro. Quatro sinais apenas podiam apresentar-se ao início do ano: acatl (cana), tecpatl (sílex), calli (casa) e tochtli (coelho). Não se reencontravam o mesmo nome nem o mesmo número senão ao final de 52 anos (13 x 4). Por outro lado, como cinco anos venusianos equivalem a oito anos terrestres, esses dois ciclos só coincidiam após 65 anos venusianos e 104 anos terrestres, ou seja, dois períodos de 52 anos. Ao fim de cada período de 52 anos, acendia-se o Fogo Novo no cimo da montanha de Uixachtecatl, perto do México; era isso que se denominava a “liga dos anos”.
Cerimônia do Fogo Novo
Em todas as casas se apagava o fogo e se quebrava a louça. No cume do Uixachtecatl, os sacerdotes observavam o movimento das Plêiades. Um prisioneiro era sacrificado, e em seguida se pressionava um bastão em fogo (tlequauitl) contra o seu peito sangrando. Acendia-se o fogo! Nesse momento, mensageiros partiam imediatamente para levar as novas e a chama até a capital. Cada família reacendia o seu fogo e renovava seus utensílios domésticos, em meio a uma alegria geral: o mundo partira novamente para mais 52 anos.
Segundo o Codex Azcatitlan, a primeira cerimônia do Fogo Novo foi celebrada pelos astecas em migração em fins do século XII sobre a montanha de Coatepec, local de nascimento mítico de Uitzilopochtli, na região de Tula. O sétimo foi o último Fogo Novo, aceso em 1507, no reinado de Motecuhzoma II. Em 1559, data prevista para a oitava celebração, o Império Mexicano havia-se tornado a Nova Espanha.
Os 260 dias do tonalpoualli dividiam-se em 20 séries (como os nossos meses), e cada série era considerada favorável (por exemplo, 1 cipactli, 1 mazatl, 1 coatal), nefasta (1 acelotl, 1 acatl, 1 calli) ou indiferente (1 xochitl, 1 ollin, 1 atl).
Dentro desses grupos de 13, os dias assinalados pelos números 3, 7, 10, 11, 12 e 13 passavam por favoráveis, e os que portavam os números 4, 5, 6, 8 e 9, por nefastos.
Homens nascidos em 1 miquiztli estavam destinados a se tornar feiticeiros; 7 xochitl era favorável aos pintores e iluminadores de manuscritos; 1 coatl, aos negociantes, 9 itzcuintli, à magia negra e também aos cinzeladores; 1 calli, aos médicos e as parteiras.
Livros
Os livros eram muito valorizados na cultura asteca. Muitos tratavam de assuntos religiosos e de rituais, de adivinhação e interpretação de sonhos. Outros relatavam as migrações das tribos, a fundação de cidades, a origem e história das dinastias e as façanhas de determinados heróis.
Os livros eram escritos, ou melhor, pintados sobre folhas feitas de fibras de agave ou cortiça batida, ou sobre tiras de pele de cabrito dobradas como um biombo.
A escrita asteca misturava a ideografia e a notação fonética. Certos caracteres designavam idéias ou objetos, enquanto outros, ou os mesmos, denotavam sons.
O Codex Borbonicus e um dos poucos manuscritos que restaram, e se encontra na assembleia nacional de Paris.
O conhecimento sobre fauna e flora era grande, a médico de Felipe II, Francisco Hernández, pôde enumerar em torno de 1.200 plantas que os astecas utilizavam em terapêutica. O ticitl (médico) asteca recorria à adivinhação e à contramagia, às preces e às imposições de mãos. Ao mesmo tempo, porém, eles sabiam reduzir fraturas, pensar feridas, colocar emplastros, aplicar sangrias e usar amplamente plantas medicinais.
O ciclo da vida
Nascimento
O destino de cada um era predeterminado na data de seu nascimento, esta mesma decidida pelas duas divindades supremas: Omelecuhtli e Omeciuatl, “o senhor e a senhora da dualidade”
Era possível, contudo, corrigir uma predestinação nefasta, escolhendo um dia mais favorável para dar nome a um recém-nascido. O sacerdole-adivinho consultava os livros e fixava a data.
A parteira fazia a lavagem ritual do bebê, pondo-lhe água sobre os lábios, cabeça, o peito e, finalmente, sobre todo o corpo. Invocava a deusa da água e depois apresentava a criança ao Sol e à Terra. Quando se tratava de um menino, preparavam-se um escudo, um arco e quatro flechas, que eram presenteados aos deuses para invocar sua proteção ao futuro guerreiro. Para uma filha, preparavam-se fusos, uma lançadeira, um cofre, e se dirigiam preces à personificação da primeira infância, Yoalticitl, “a curandeira noturna”.
Educação
Durante os primeiros anos, a educação da criança estava a cargo da família. O menino aprendia a trazer água e lenha, ajudava nos trabalhos agrícolas ou no comércio, pescava e remava sob a direção do pai. A menina varria, iniciava-se na cozinha, fiação e tecelagem.
Com 6 a 9 anos, seus pais a confiavam a um dos dois sistemas de educação pública então existentes no México: o colégio do bairro, onde os “mestres de rapazes” e “mestras de moças” preparavam seus alunos para a vida prática; ou então o calmecac, colégio-monastério, onde a educação era ministrada pelos sacerdotes. Em princípio, somente os filhos de dignitários (pilli) tinham acesso ao calmecac. Os filhos de negociantes, porém, também podiam ser admitidos, bem como crianças das camadas populares, caso se destinassem ao sacerdócio.
Os colégios de bairro visavam antes de tudo formar cidadãos dedicados ao cumprimento de seus deveres, principalmente de seus deveres militares. Durante o dia submetidos a uma severa disciplina. À noite, porém, iam cantar e dançar, e os mais velhos mantinham ligações com as auianime.
Ao contrário, os jovens admitidos no calmecac, sob a direção dos sacerdotes e a proteção de Quetzalcoatl, antigo rival de Tezcatlipoca, levavam uma vida austera, feita de trabalhos manuais e intelectuais, de jejuns e penitências. Ensinavam-lhe “boas maneiras”, os rituais e a leitura de manuscritos hieroglíficos. Deviam aprender de cor os poemas mitológicos e históricos e iniciar-se nas funções para as quais estavam destinados: o sacerdócio ou altos cargos do Estado.
Durante o sexto mês do ano, o Atemoztli, os alunos de bairros e monastérios invadiam os lugares uns dos outros, carregavam ou destruíam móveis e utensílios e se infligiam trotes recíprocos.
Casamento
Após o colégio a maioria dos jovens se casava.As famílias arranjavam as uniões por meio das “casamenteiras”, mulheres idosas que conduziam as negociações. O sacerdote-adivinho indicava um dia favorável. A cerimônia de casamento tinha lugar na casa do noivo. A jovem, vestida e paramentada, se apresentava à noite na casa de seu futuro marido, acompanhada de um cortejo alegre conduzindo chamas. Sentados juntos diante do fogo, os jovens recebiam os presentes; em seguida, as “casamenteiras” enlaçavam o traje da noiva e o manto do jovem, após o que eles compartilhavam um prato de tamalli e deviam permanecer orando por 4 dias.
Também se viam jovens coabitarem, adiando a cerimônia oficial. A poligamia era freqüente, sobretudo nas classes abastadas, e cada mexicano podia ter numerosas esposas secundárias.
Idosos
Ao chegar a certa idade, velhos e velhas tomavam seu lugar no grupo dos “anciãos”, cujas advertências eram ouvidas com atenção; consagravam-se às devoções, freqüentavam os banquetes e bebiam livremente o octli, sem temer sanções.
Havia o rito da confissão, que poderia ser feito apenas uma vez na vida, e acarretava não somente o perdão, mas também imunidade diante da justiça. O penitente, à sós com um sacerdote, invocava, junto com este, Tezcatlipoca “que tudo vê”, e Tlazolteotl, a deusa do amor, “devoradora dos pecados”. Em seguida, descrevia, sem nada esconder, as faltas das quais se sentia culpado. O sacerdote impunha-lhe uma penitência —jejum, escarificações da língua, oferendas aos deuses e tudo era mantido em segredo.
Morte
A maioria dos mortos era incinerada. Envolvia-se o corpo, sentado, de joelhos flexionados em direção ao queixo, com muitas camadas de tecido, de maneira a formar uma “múmia” ou fardo funerário.
Os guerreiros mortos em combate ou sobre a pedra dos sacrifícios iam para o céu oriental, fazer companhia ao Sol desde a aurora até o zênite; ao fim de quatro anos, retornavam à Terra sob a forma de colibris.
Os que Tlaloc havia chamado conheciam eternamente a tranqüila felicidade do paraíso chamado Tlalocan, maravilhoso jardim tropical.
A maioria dos defuntos, porém, ficava “debaixo da terra divina”, na obscura morada de Mictlan. Durante quatro anos, sofriam as provações de uma tenebrosa viagem ao mundo subterrâneo; depois, atravessando os Nove Rios, entravam na Nona Morada dos Mortos, e lá, totalmente aniquilados, desapareciam de modo definitivo.
Como caso particular, acreditava-se que as crianças que morressem em tenra idade penetrariam em um jardim denominado Tonacaquauhtitlan — “o parque de nossos alimentos” —, onde viveriam eternamente sob a forma de pássaros entre flores.
Para ajudar o morto durante a sua peregrinação, queimavam-se alimentos junto com ele; matava-se e incinerava-se um cão, pois não havia Xolotl, o deus com a cabeça de cão, irmão gêmeo de Quetzalcoatl, triunfado em um passado fabuloso das armadilhas de um mundo infernal? A família ainda queimava oferendas 80 dias (quatro meses) após os funerais, e depois, ao fim de um, dois, três e quatro anos.
Quando um personagem importante morria afogado — ou de qualquer modo “distinguido” por Tlaloc —, era enterrado em uma câmara sepulcral, sentado sobre um icpalli, cercado de suas armas e coberto de jóias. Os homens — mesmo os mais humildes — que se afogavam no lago, eram lidos como tendo perecido entre as garras do monstro aquático Auitzotl. Seus cadáveres eram cercados de intensa veneração e enterrados solenemente em um santuário dos deuses da água.
Mito da criação
O mito da criação asteca inclui a ideia de que o nosso mundo fora precedido por quatro outros universos, os Quatro Sóis.
O primeiro Sol, nauiocelotl (“quatro-jaguar”), desaparecera em um massacre, em que os homens foram devorados pelos jaguares, símbolo das forças telúricas.
O segundo universo denominava-se naui-eecatl (“quatro-vento”). Quetzalcoatl, a Serpente de Plumas, deus do vento e rival mítico de Tezcatlipoca, fez soprar sobre esse mundo uma tempestade mágica, transformando os homens em macacos.
Tlaloc, divindade benfeitora da chuva, mas também o terrível deus do raio, destruiu o terceiro universo, nauiquiauitl (“quatro-chuva”), submergindo-o em uma chuva de fogo.
O quarto Sol, naui-atl (“quatro-água”), sob o signo de Chalchiuhtlicue, deusa da água, terminou em dilúvio que durou 52 anos. Um homem e uma mulher foram salvos, segurando-se a um tronco de cipreste, mas, tendo desobedecido às ordens de Tezcatlipoca, foram transformados em cães.
A humanidade deve sua existência a Quelzalcoatl, que sob a forma de Xolotl, resgatou os ossos dos mortos do inferno e os regou com sangue para lhes dar a vida.
O nosso mundo, foi designado pelo signo naui-ollin (“quarto tremor de terra”), fadado a desmoronar em meio a imensos sismos. Então os Tzitzimime, monstros esqueléticos que vagueiam na orla ocidental do universo, surgirão das trevas e aniquilarão a humanidade.
Acreditavam os astecas que essa catástrofe final poderia acontecer a qualquer momento. Ao fim de cada ciclo de 52 anos, temia-se que a “liga dos anos” não pudesse completar-se e que o Fogo Novo não se acendesse, e assim tudo se destruiria no caos.
A missão do homem em geral consistia em conjurar infatigavelmente o assalto do nada. Para isso, era preciso garantir ao Sol, à Terra e a todas as divindades a “água preciosa”, sem a qual a engrenagem do mundo deixaria de funcionar: o sangue humano.
A guerra servia para conquistar territórios, aplicar tributos, garantir rotas para comerciantes mas principalmente para conseguir prisioneiros para os sacrifícios.
O sacrifício era feita colocando a vítima sobre uma pedra e abrindo seu peito com um machado de silex, daí o coração era arrancado e oferecido ao sol.
Arte
Arquitetura
Todos os monumentos da Cidade do México foram destruídos em 1521, quando a cidade foi sitiada. Temos apenas descrições e desenhos de época, que vieram a corroborar as escavações arqueológicas do Grande Templo.
Fora da cidade alguns edifícios sobreviveram, como os templos de Teopanzolco, no atual Morelos, e de Huatusco e de Teayo, em Veracruz. A pirâmide de Tenayuca, não muito longe do México, originariamente construída por “chichimecas” mais ou menos toltequizados, foi completada pelos astecas.
A arquitetura religiosa usava a pirâmide encimada por um santuário, com suas escadarias íngremes, ladeadas por serpentes emplumadas.
Templo de Calixtlahuaca, sobre o planalto de Toluca, se conserva praticamente intacto e descobriu-se ali uma estátua do deus do vento.
Em Malinalco, nas montanhas que cercam o planalto de Toluca, ao sul, fica um templo inteiramente escavado na rocha viva, destinado aos cultos que celebravam os cavaleiros-águias e os cavaleiros-jaguares.
Escultura
Estatuas representativas de Tlaloc são clássicas, com características arcaicas por ser uma divindade antiga.
O monólito que representa Coatlocue tem simbolismo macabro, é considerada uma das mais extraordinárias obras religiosas.
Representações de Xipe Totec mostram o deus recoberto por pele de um sacrificado. A de Xochipilli, deusa da juventude, música e jogos, é recoberta de flores.
Quetzalcoatl aparece como uma serpente de plumas enrolada sobre si mesma, com o hieróglifo ceacatl na cabeça, ou raramente com rosto e membros humanos combinando-se ao corpo de uma serpente (Museu do Homem, Paris)
O Calendário Asteca contém as ideias de cosmologia e medição do tempo. No seu centro está o Sol dentro do signo de nauiollin, símbolo do universo. Os quatro braços da Cruz de Santo André, correspondentes ao signo ollin, contêm os símbolos dos quatro antigos Sóis. Em torno desses hieróglifos, círculos concêntricos mostram os signos dos dias, os anos, representados pelo glifo xiuitl composto de cinco pontos, sendo quatro em cruz e mais outro no meio; e enfim duas serpentes de turquesa (xiuhcoatl), isto é, os dois períodos de 52 anos que correspondem aos 65 anos venusianos, os dois constituindo o ciclo de 104 anos denominado ueuetiztli ou uma velhice.
Fora do México estão dois crânios em cristal de rocha conservados no Museu do Homem, em Paris, e no Museu Britânico; uma estatueta em jadeíta de Tezcatlipoca, no Museu do Homem; e uma estatueta de Xolotl no Museu de Stuttgart.
O Museu Nacional de Antropologia do México possui, uma esplêndida cabeça de cavaleiro-águia em pedra. Nele, o rosto de um guerreiro, cheio de abnegação, esta enquadrado pelo bico de uma ave de rapina.
Os astecas também faziam muito bem máscaras em pedra, freqüentemente incrustadas de turquesas, obsidiana, madrepérola e granadas. Tinham finalidade funerária ou representavam deuses, devendo ser usadas em cerimônias religiosas.
Pintura
O que restou de pintura foram os Afrescos de Bonampak entre os maias, câmaras funerárias pintadas pelos zapotecas de Monte Albán e afrescos religiosos de Teotihuacán. Posteriormente se encontrou pintura mural em Chichén-Itzá (tolteco-maia), entre os mixtecas e na região mixteco-puebla (altar decorado de Tizatlán), além de pinturas murais de alta qualidade em Cacaxtla, no estado de Tlaxcala.
Os codex que escaparam são provenientes do território mixteca (Codex Nuttall), ou da zona mixteco-puebla (Borgia). O Codex Borbonicus (Biblioteca do Palácio Bourbon, em Paris) é um livro ritual, composto por calendário divinatório. São 20 séries de 13 dias, estando cada um dos signos acompanhado de suas divindades protetoras, a diurna e a noturna. O Codex Telleriano-Remensis (Biblioteca Nacional, Paris), descreve ano por ano os principais acontecimentos históricos como entronização e morte de soberanos, guerras e conquistas, inauguração do grande templo, tremores de terra, eclipses. O Codex Mendoza, documento administrativo e financeiro (Biblioteca Bodliana, Oxford), foi redigido pouco após a conquista espanhola por escribas astecas que transcreveram, por ordem do vice-rei D. Antônio Mendoza, os registros de tributos pagos ao Império no reinado de Motecuhzoma II
A cinzelagem era dominada pelos olmecas. A arte maia, em Palenque, por exemplo, deixou esplêndidas estatuetas, jóias e máscaras em mosaico. Os toltecas eram considerados mestres no trabalho em pedras duras: Quetzalcoatl, segundo a tradição, possuía uma casa toda revestida de jade.
No Museu Britânico há facas de sacrifício com lâmina de sílex e punho em madeira esculpida é inteiramente recoberto de um mosaico de turquesas e madrepérola; uma serpente de duas cabeças em madeira; um mosaico de turquesas e um fragmento de máscara de madeira incrustado de turquesas, sondo provavelmente uma máscara de Tlaloc(parte dos tesouros enviados por Motecuhzoma a Cortez e por este ao rei Carlos V).
Os amantecas fixavam plumas com um fio de algodão, sobre uma base de vime ou bambu. Ou de forma mais complexa, plumas cortadas em pequenos fragmentos que eram colados sobre um tecido ou papel.
Em Viena encontramos escudos cerimoniais com a representação do monstro aquático Auitzotl e em Stuttgart com motivos geométricos, assim como um manto cerimonial em algodão e papel decorado com símbolos religiosos em plumas no Museu de Berlim.
A maior parte de objetos de ouro e prata foram saqueados. Uma estatueta em ouro do imperador Tizoc está no Museu do índio Americano em Nova York, uma das poucas que restaram.
Literatura
O nahuatl era falado pelos astecas e povos do vale, e era um idioma rico, capaz de expressar ideias abstratas e construir discursos complexos. Inclusive permitia rimas e figuras de retórica. Poemas eram declamados nas casas dos nobres, sendo a poesia sobre a beleza da vida, do mundo e sobre a morte inevitável.
Música
A musica asteca contava com instrumentos de sopro (trombetas, conchas, flautas) e percussão (tambores, gongos de madeira, chocalhos, cascos de tartaruga tocados com chifre de cervo, reco-reco)
Nas festas religiosas havia muita dança, geralmente após o pôr-do-sol, e tinham função de ganhar a aprovação dos deuses.
Nobres e mercadores dançavam após as refeições em suas casas.
Conquista espanhola
A presença espanhola nas Américas começa em 12 de outubro de 1942, quando Cristovão Colombo, acreditando ter chegado às Índias, na verdade chega às Bahamas. A invasão se iniciou por São Domingos, Porto Rico e Cuba. Nesse tempo não se fazia ideia da existência do México.
Em 1502, foi encontrada uma piroga com tecido, cacau e machados de cobre próximo a Yucatán. Mais tarde, em 1522, uma tempestade fez uma caravela nafragar em Yucatán, sendo os dois sobreviventes feitos prisioneiros por uma tribo Maia. Um deles foi libertado por Cortez oito anos depois e o outro se casou com uma local e se tornou cacique.
Apenas em 1517, Francisco Hernándes de Córdoba fez uma expedição a Yucatán e foram escurraçados pelos Maias, perdendo 57 homens dos 110 que embarcaram. A expedição serviu como reconhecimento da civilização Maia com seus edifícios e seus templos em pedra, as ricas vestimentas e as jóias dos nativos
Em 1518, Juan de Grijalva, com quatro navios descobriu a ilha de Cozumel, coateou Yucatán e o golfo do México, chegando a território Asteca. Estes os receberam bem e deram presentes.
Em 10 de fevereiro de 1519, Cortez saiu de cuba com 11 navios, 508 soldados, 16 cavalos e 14 peças de artilharia. Em Tabasco foi recebido com presentes, inclusive com uma jovem que seria crucial na sua expedição. Uma jovem nobre, inteligente, que falava mais e nahuatl. Junto com Aguillar (o espanhol que foi prisioneiro por 8 anos), foi possível a comunicação com os povos locais.
A jovem recebeu o nome de Marina, sendo conhecida como Malintzin (Malinche), e acabou tendo um filho de Cortez, que foi o primeiro mestiço a desempenhar um papel importante na história do México.
Motecuhzoma (Montezuma) recebeu a chegada dos espanhóis como presságio da volta de Quetzalcoatl para retomar sua herança. Essa crença veio de supostos presságios, como clarões no céu, vozes lamentando-se no espaço, incêndios inexplicáveis e outros prodígios, e do fato de que o ano “um-cana”, 1519 do nosso calendário, coincidir com a data recorrente a cada 52 anos, a qual poderia, segundo o mito de Quetzalcoatl, marcar o retorno da Serpente de Plumas.
Com o avanço nós territórios, Cortez percebeu a grande rivalidade entre os povos submetidos ao poder dos astecas na capital, como os totonaques, por exemplo. Ele juntou forças com esses povos e conseguiu juntar 13 mil guerreiros e carregadores. Em 02 de setembro de 1519 eles chegaram a Tlaxcala, onde também se deparou com rivalidade do povo local aos astecas. Ao avançar até Cholula, houve um massacre de 6000 pessoas e o avanço sobre o vale central. Após passar a noite em Iztapalapan, eles chegaram à cidade. Sua recepção foi feita por Motecuhzoma e outros dignatários e foi quase uma rendição:
“Sede bem-vindo, nosso senhor, de volta a vosso país e entre o vosso povo, para vos sentar sobre vosso trono, do qual fui o detentor por algum tempo em vosso nome.”
Em 8 de novembro de 1519 os espanhóis se instalaram no antigo palácio de Axayacatl.
Apesar da postura de Motecuhzoma, o povo resistia ao domínio espanhol que se estabelecia. Na “Noite Triste” de 30 de junho de 1520, os espanhóis e os tlaxcaltecas foram duramente atacados e só se salvaram por conta dos otomis e tlaxcaltecas da região que os socorreram. Cortez se reergueu e contra-atacou, isolou a capital e construiu embarcações armadas para atacar o lago. A cidade sitiada padeceu com fome e falta de água, além de uma epidemia de varíola proveniente de Cuba.
Em junho de 1520, Motecuhzoma morreu em combate, talvez em mãos dos espanhóis, talvez pelo seu próprio povo. Seu sucessor Cuitlahuac reinou 80 dias, até morrer de variola. O último soberano foi Cuauhtemotzin, cujo nome significa “a águia que tomba”, isto é, o sol poente.
Diferente de Motecuhzoma, Cuauhtemotzin tinha atitudes enérgicas, em 13 de agosto de 1521, dia “um-serpente”, geralmente tido como favorável, mas em um ano “3-Casa”, signo nefasto, Cuauhtemotzin teve que se render a Cortez. Este foi o fim do império Asteca.
Por que os espanhóis ganharam a guerra?
1 -os espanhóis com suas armas e couraças de ferro, seus arcabuzes e canhões, suas caravelas e seus cavalos, eram muito superiores aos astecas, armados com espadas de obsidiana, arcos e flechas com pontas de sílex, escudos e capacetes de materiais leves e túnicas estofadas de algodão, deslocando-se a pé ou de canoa.
2 – para os astecas, a guerra constituía uma espécie de duelo cujos árbitros eram os deuses, conduzida conforme regras tradicionais muito precisas, já os espanhóis queriam destruir a religião indígena em proveito da sua própria, considerada a única verdade, e eliminar o Estado asteca em proveito de seu soberano Carlos V
3 – a epidemia de varíola que dizimou muitos astecas e matando Cuitlahuac.
4 – a convicção de Motecuhzoma de ter diante de si Quetzalcoatl de volta ao México, o fez quase renunciar ao domínio.
5 – o apoio dos povos inimigos dos astecas. Os homens, os ensinamentos e a força guerreira que forneceram os totonaques, tlaxcala, uexotzinco, os otomis, as tribos do sul do vale e o partido de Ixtlilxochitl em Texcoco. Eles só não sabiam que suas cidades também seriam destruídas e a cultura e religião locais seriam extintas.
O império Asteca durou apenas 93 anos, entre o advento de Itzcoatl e a rendição de Cuauhtemotzin.